
"Que ninguém se engane, só se consegue a simplicidade através de muito trabalho”. Clarice Lispector.
Depois de alguns parágrafos trocados com meu companheiro de leituras e de viagens metafísicas, meu caro jovem poeta, Fagner Roberto e eu, findamos nossas idéias com a frase da minha ‘primeira amada’, a senhora Clarice Lispector.
Mas o que é ser simples? Podemos trabalhar para alcançar a nossa simplicidade? Está não seria intrínseca a natureza humana?
Nós filhos de Adão, nos reconhecemos pela primeira vez como homens no momento exato em que estávamos nus, desprovidos de vestimentas, de idéias, de respostas. Embora houvesse um paraíso, bem sabíamos que já não pertencíamos aquele reino. Foi então que fomos mandando pra cá, neste nosso chão. Onde derramamos tantas lagrimas debaixo de tantos sofrimentos. Tantas brigas por posses, ganâncias, na luta da considerada pseudo ‘dignidade’.
Fomos incumbidos de tomarmos nossos sustentos pelas nossas próprias mãos. E o que desejamos nós, Filhos de Adão? Quando foi que nos vimos trabalhando pela simplicidade? Certamente não deve ter sido ao erguemos suntuosas igrejas, ornadas com ricos brocados de ouros. Muito menos no assistencialismo barato, vendido em qualquer empresa infeliz que empregue mal o seu dinheiro do terceiro setor.
Se fossemos a Adão, descobriríamos se existiu algum momento do qual a simplicidade tomou espaço dentro dos olhos dele? Acredito que não. Esforço-me em recordar quando foi a ultima vez que vi um único ato sequer de simplicidade.
Algo em mim recusa o silêncio, pois ouso perguntar: “Porque os religiosos não fazem votos de ‘simplicidade’”? Pois se eles o fizessem se importariam menos com tantos outros votos, ou compromissos. Porque queremos coisas grandes demais?
Subentendo que ‘quanto menor a casinha, mais sincero o Bom Dia!’E se me questiono sobre a simplicidade é por saber que em mim nada tenho movido para que ela fosse minha aliada. Por mais que a desejo acabo usando de seu nome para me justificar. E bem sei que quanto mais eu desejar ser simples, mais distante estarei de uma vil centelha de qualquer chama que dela brotasse.
Em quais sentidos meus eu experimentei a simplicidade? Visão? Audição? Paladar? Tato?Olfato? Não, eu nunca a senti. Então o que é simplicidade? O que sei dela?
Não sou um puro de coração o bastante, caro Fagner.Estou encerrado por um triz em minhas ambições. Suponho que ser simples seja uma forma indesejada de amadurecer. Desconfio ainda que promover simplicidade ultrapassa modismos solidários. E ainda penso que simplicidade tem mais a ver com uma simples atenção do que minimalismos.
Erram ainda os que aceitam a idéias de que a simplicidade anda de mãos dadas com a miséria. Ao contrário do que pensam, ela se contra na mais alta nobreza. Só um considerado nobre pode descobrir de maneira razoável o que venha ser um pouco de simplicidade. Ao miserável, o contrário. Enfeitam seu caminho de orquídeas que ameaçam morte sem manter contato com as raízes, a água e o sol.
Ao terminar minha pequena apologia, devo ainda dissertar acerca do tempo. Sim, leva-se tempo para se tornar simples. É trabalhoso. É nessas horas que recorro a santa intuição, sem a qual homem algum deveria viver. Desmistifico primeiro as premissas hipócritas. A virtude está sempre na simplicidade. E se Adão na sua nudeza e descoberta de um mundo novo não se dispôs a encarar a simplicidade, eu na minha incompreensão considero que um dia irei encontrar refúgio sob as sombras dessa virtude que começo a plantar desde hoje. E se acaso eu não souber agir pelo simples, submeto-me na mais digna pobreza íntima, a escutar o silêncio da minha ensolarada consciência.
Nenhum comentário:
Postar um comentário